quarta-feira, 24 de julho de 2013
Entre "nadólogos" e niilistas
Balzac, em determinada ocasião, chamou aos jornalistas de “nadólogos” (em francês “rienologues”, de “rien”, nada), serão os filósofos e poetas mais que "nadólogos"? Não serão os jornalistas antes "amplificadores de nadólogos"? Há algo além do niilismo nos furos e incompletudes das teorias físicas, psicológicas e linguísticas? O trabalho mental que nos consome nos levará além do vão, do abismo que existe na forma de "não-existir em si" a cada nada em que tropeçamos no fim de cada jornada finda? Será o fim mais que isso? Devemos enxergar o fim como conclusão de objetivos quando positivo, mesmo que na "conclusão" já esteja embutido um "nada" à posteriori? Insistir na vida é uma atitude "nadóloga" e poética, entender a vida talvez seja ter a postura peremptoriamente niilista e assim se dividem os homens.
Homem de Aço, filme
Acabo de assistir ao filme Homem de Aço (Man of Steel, Warner Bros, 2013) e definitivamente, não me agradou. Faço parte do público que vai aos cinemas assistir a filmes de super-heróis sem a pretensão de esperar mais do que um bom filme. Fidedignidade com os quadrinhos não faz parte das minhas expectativas, partindo do princípio de que não sou leitora dos mesmos. Homem de Aço quebra um paradigma atual dos filmes de heróis que têm sido feitos desde o início do século para cá, filmes com coerência e senso de adaptação à realidade. O filme é caótico, a destruição é sem sentido ou direção e o foco é dado aos efeitos especiais (muito bem feitos, por sinal), não se sabe bem durante as várias cenas de luta e guerra aonde a personagem principal está indo ou onde se passam as lutas paralelas. A incoerência do filme traz ainda uma Lois Lane (Amy Adams) onipresente, não importa onde o Homem de Aço caia depois de longas lutas, lá está ela com seu apoio a seu salvador, bem ao seu lado. Os diálogos são escassos e pouco dignos de nota e a forma como o filme tem seu desenlace é de certa forma ilusória e sem sentido, tanto físico quanto da trama em si, mesmo para um filme próprio de ficção/ação. O humor é pouco refinado, destaque para uma péssima cena final em que uma policial tem um close no sorriso e diz que o Superman é um tanto quanto "sexy". Talvez tenha sido essa a única parte realmente digna de nota no filme.
Essa semana vi a notícia de que esse Superman irá fazer um filme com o Batman, provavelmente não será o excelente Batman de Christian Bale. Não há como comparar as duas personagens. A última trilogia Batman, é claro, supera de longe em inteligência, construção e personagem em si tal filme do Homem de Aço. As atmosferas das personagens são também bastantes distintas. Superman remete mais ao panorama ilusório das histórias incríveis, com seus poderes, naturalidade de outro planeta, enfoque dos tipos de vilões e claro, com sua indestrutibilidade, características fora da realidade; Batman já tem um apelo real, com medos e situações plausíveis, bem construídas, é ainda um homem, sem poderes sobre-humanos, os inimigos são fruto de uma sociedade desigual e desequilibrada e a distinção entre bem e mal não é tão maniqueísta. Como juntar os dois super-heróis? Eis um belo desafio que não sei como ainda poderá ter boa fusão, ou, claro, coerência, mas, estamos falando de um filme do Superman, onde o impossível é a marca.
Talvez a beleza de Clark (Henry Cavill) na tela ainda conquiste alguns expectadores, beleza muito parecida com a do ator da série Smallville (Tom Welling), mas, o filme em si segue antes a linha de filmes de catástrofes hollywoodianas à de verdadeiros super-heróis, é bom alertar.
segunda-feira, 22 de julho de 2013
Doravante Dora deixa de lado seu nome e tenta estigmatizar sua planta, deseja que a planta seja sua transcendência, seja toda a natureza que ainda não percebeu. Dora sabe naturalizar-se, mas prefere modificar sua cota de exposição ao mundo e tentar aborrecer as plantas como uma bruxa de realidade perdida. Sua avó, dizem, era uma bruxa, sabia cultivar as ervas e nenhum de seus filhos jamais a viu com os cabelos presos ou deitada em uma cama. Dora se regozijava em ver as cerejeiras em flor da casa de sua avó, imaginava que seu poder de transformação estaria contido nelas, como uma criança acredita que pode conseguir algo apenas por uma condição específica, mas sem nexo das circunstâncias. Dora teve dois amantes efêmeros que a consumiram até a dissipação do espírito aventureiro que possuía, talvez tenham sido vampiros, ela diz, ou talvez tenha sido sua doença, nasceu assim, imprópria para a vida, não tem os mecanismos homeostáticos necessários para se preservar dos males do Sr. Oxigênio. Deveria tentar o Hélio? Já era noite e ela caminhava com marcha anormal pela rua erma da casa de sua avó, a mansão sem luz indicava que o tempo já era psicológico, ela estava certa de ver três gerações à mesa de jantar. Talvez os cupins se encarregassem de destruir um pedaço do que foi preservado meticulosamente pela neta, talvez os cupins se encarregassem de trazer de volta os namorados corroídos de dentro para fora. As ervas poderiam ajudar, as cerejeiras também, mas somente se o ar não estivesse tão viciado e o Oxigênio, não tão distinto como o era no passado, não lhe fosse tão nauseante.
sexta-feira, 19 de julho de 2013
Uma roseira é um pé de romãs
O vento faz com que a janela bata desenfreadamente e gela minha pele descoberta. A cama não parece ser do tamanho adequado, um pouco maior em comprimento, um pouco menor em largura e talvez um pouco mais tenra que o devido. Há uma roseira na casa vizinha que me lembra o pé de romãs daquele conto de fadas, e eu à dormir como se minha vida fosse dessa espécie. Tenho água e livros, tenho mais vida entre quatro paredes do que na rua, ao vento. O vento vem até mim. As janelas agora são minhas cúmplices, estou me desarticulando da verbalização e elas ajudam, se responsabilizam por toda a balbúrdia necessária e me deixam com a modificação silenciosa, todo esse embaraço de cabelos soltos, ao vento e ao quarto.
Inverno ameno dos trópicos com mamãe
É a segunda vez na semana que mamãe lava o alpendre, é a segunda vez na semana que ela parece se sentir um pouco mais espirituosa. Não reclamou ainda de que a noite anterior se estendeu um pouco mais devido à visita de meus primos, nem das risadas incontroláveis que ecoavam por toda a velha casa da vovó. Mamãe disse que é preciso lavar o alpendre toda semana e isso inclui lavar a calçada também, mas não creio que haja tanta necessidade assim, talvez eu seja um tanto relapsa com casa e limpeza, mas tal hábito jamais existiu em mim, em meu dia, então, não me culpo por ser um pouco alheia. Acordada desde as sete da manhã, perece que o sol das oito é o mais revigorante, talvez seja só o sol do inverno, inverno ameno dos trópicos, que tem me deixado mais tolerante à luz natural. Mamãe pintou os cabelos ontem, estão tão pretos, tão bonitos! Ela fará cinquenta anos mês que vem, uma idade em que se começa a ser sábio, ou a se ganhar tal status, só se é realmente sábio na proximidade com a velhice, a idade chega a ser uma característica agregada e essencial da sabedoria. Mas mamãe tem os traços joviais e o corpo também, talvez isso desvie um pouco o olhar sobre sua sabedoria, embora para mim ela tenha sido mestre desde o princípio, não poderia ser diferente. Essa semana tive um sonho em que me diziam que o meu defeito era ser muito jovem, que eu tinha quase todas as qualidades que interessavam à uma pessoa, mas perdia a credibilidade de todas elas por ser tão jovem! Foi um sonho de angústia, talvez eu quisesse que minhas qualidades fossem salientadas nele, mas também gostaria de poder ter sido mais velha nele, que desejos não realizáveis essa parte esconde? Farei uma melhor análise comigo mesma logo mais. Mamãe hoje sonhou com um cadeado, não conseguia fechá-lo ou abri-lo, foi o que ela me disse. Perguntei se era o cadeado do portão daqui de casa, ela disse que sim. Acho que ela realmente queria mandar embora os sobrinhos ontem à noite, mas não reclamou, só em seu sonho. Mamãe é muito diligente, já está acabando a limpeza e depois pensará no almoço e me pedirá para buscar minha irmãzinha na escola. Ela poderia se sentar, ler, tomar um café, contar algo sobre si mesma, mas o espírito de ser útil lhe corrompeu tanto que não sei se o retorno para momentos de calmaria e reflexão serão feitos na minha presença opressora de filha. Opressora pois eu a lembro da realidade e de responsabilidades. Eu sou a responsabilidade personificada para ela. Às vezes mamãe diz que deseja viajar, ir à praia, não se preocupar. Esse não-stress não depende da praia, mas eu não conseguirei fazer com que ela se permita, minha explicação ou observação também são inúteis, sou a mera personificação de responsabilidade!
quarta-feira, 17 de julho de 2013
E as férias de julho, que tal?
E vamos falar das férias, das minhas em específico; elas até que estão cumprindo seu papel. Tenho descansado, regulado meu ciclo sono-vigília, que nos últimos meses estavam um verdadeiro contínuo de vigília, interrompida por cochilos intransigentes. Tenho dedicado tempo a leituras aprazíveis e caminhado ao entardecer, após o café. Novos ares, e até uma gripe providencial veio me agraciar também! Ah, porque a doença é providencial algumas vezes! A gripe, que é claro, foi um mero resfriado, me deixou perceber melhor os meus limites físicos e por que não, também os mentais? Há sempre um vislumbre de novo "eu" quando adoecemos, seja um "eu" carente, seja um "eu" reflexivo e que se propõe atentar para novas medidas dessa existência frágil. Na doença fiz grandes progressos no sentido "férias para se (e si) curtir", seja por deixar meu espírito mais feliz provando novos chás e os adocicados mil da culinária curandeira mineira, seja por entrar em contato com certa meditação que surge espontaneamente com o ficar de pijama através do dia e se deixar ficar parado ao sol após ter acabado de acordar! Essas sutilezas da doença providencial contribuíram significativamente para meu descanso mental. Ainda sobre minhas impressões desses dias de ócio, mas nem tanto, descobri que me emociono com jogos de futebol mais do que imaginava, estou muito ligada ao possível título da Libertadores da América do meu querido time Atlético Mineiro! Ah, esse emocional primitivo e bruto que insiste em se manifestar e que tenho certeza, vai além do meu pobre inconsciente vazio! E já que vim para esse lado da conversa, descobri que Lacan e os estruturalistas me chamam mais a atenção do que eu imaginava! Tenho dedicado um tempinho a eles também, por esses dias. Outra leitura interessante que tive hoje foi sobre a "Teoria das Descrições" do Russell, a filosofia da linguagem às vezes é tão matemática! Estou começando a me desligar da antiga rotina, mas sei que minhas próximas e últimas duas semanas de transcendência rotineira não sobreviverão mais que seu tempo contado, meu desejo é, pois, estar cansada do descanso até que as aulas recomecem! Façam figa por mim, e pelo "Galo" também, caros leitores!
segunda-feira, 24 de junho de 2013
Sobre os protestos
Sobre a questão das manifestações e protestos no Brasil, quero pontuar algumas questões, sem pretensões de dogmatismos ou tomadas de direita, esquerda e variáveis. Desde o início nota-se um caráter rizomático no protesto, que se estende a vários setores do denominado "bem comum", levando por vezes a um paradoxo protestante. Quando vai as ruas, um indivíduo segurando cartaz pode notar um protesto por razões opostas ao olhar para o cartaz da pessoa ao seu lado, eis uma diversidade um tanto intrigante.
O mérito do movimento espontâneo e coroado pela paixão e indignação comum tem em contrapartida o demérito de não possuir demanda específica. Há certo aguardo de um líder por alguns, ou uma liderança, para que se gere credibilidade, para outros a extinção de qualquer exibição de cargo de poder é o cerne do movimento, cerne perigoso. O que se aguarda, de fato, embora ainda não de forma muito contundente é uma resposta qualquer. Houve a resposta para o aumento da tarifa, núcleo inicial dos protestos, mas tal resposta parece destoante agora das pretensões estendidas da indignação, relativas a diversos setores. Pode-se dizer que além das respostas aguardam-se consequências, mas quais são realmente as perguntas e reivindicações chave? O PEC 37 se destaca, saída de Renan Calheiros do Senado também. Mas há falta de articulação no movimento com relação à estes, e com ela, falta de intelectualização. Aliás, a intelectualidade está em abstenção ou não quer receber esse título até o momento. As redes sociais propiciam protestos des-intelectualizados, permitem a integração de todos ao projeto, mesmo que não queiram racionalizar sobre o problema, pode-se apenas protestar. A obtenção de uma resposta em Brasília parece ser a direção mais evidente para um desenlace, contudo a presidente não se posiciona ou faz discursos de valia, seja pelo seu despreparo, por sua falta de opinião, ou por ter sido preparada como sucessora de um partido e não como pessoa política competente para o seu cargo.
Um desfecho perigoso que tem vindo à tona é a abolição dos partidos. Há quem clame por isso. Uma mostra de que a indignação brasileira precisa se refinar ainda, pois a solução de problemas civis não deve ser apolítica; acabar com um sistema funcionante de organização pública é um viés de alguns desinformados protestantes que provam ser as manifestação no Brasil distantes das as de um país desenvolvido, ou no mínimo politizado.
A dificuldade em dar resposta para as manifestações diversas e a generalização das ideias do protesto persistem. Os manifestos que pegaram carona com a tarifa de ônibus correm o risco sim de ficarem sem resposta resolutiva. O movimento Passe Livre, que creio não chegará a conseguir seu real intento com tais manifestações, tanto que se absteve momentaneamente de protestos após o anúncio da redução da tarifa em São Paulo, tem um ideal que implica no direito de ir e vir da população, reconhece que o estado deve garanto-lo. Outro ponto é o do dinheiro público financiando o transporte individual com os IPIs reduzidos anunciados, um engodo, mas quanto a este não vi ainda protestos sobre.
Ainda sobre o desfecho de tais movimentos, há quem diga que quem se beneficiará seja a extrema esquerda. Há a desmoralização do congresso, políticos e democracia brasileira, esta principalmente a nível internacional. A imagem de um grande Brasil, país do futuro, está se transformando em um conto do vigário na Europa; o tal futuro glorioso do Brasil caiu na taxação de falsa propaganda internacional. A diminuição dos investimentos no país me parece uma consequência econômica a médio prazo, a instabilidade não sai de graça. A curto prazo o progresso econômico parece se restringir à ocupação das ruas e ao bloqueio da movimentação física, sem passagem, há estagnação física e de capital regional.
Pode ser que o movimento esfrie, as férias escolares podem agora jogar à favor do governo, nesse caso, pode ser que cada vez mais baderneiros venham a se aproveitar, vindo a justificar uma repressão mais forte ou um caos geral. Mas, tenho esperanças de que o movimento perdure até que se consiga racionalizar sobre ele, que se possa levar de forma refinada os ideais que são íntimos dos brasileiros a uma concretização e consolidação política.
Relacionamentos
Relacionamentos podem abarcar para si várias nuances. Romancistas podem-se utilizar de inúmeras e rebuscadas adjetivações. Falemos dos relacionamentos em um plano geral: Alguns são efêmeros e intensos, outros insossos e duradouros, as qualidades podem se mesclar e assim conhecemos e nos envolvemos ao léu. A capacidade do ser humano de se relacionar exige uma condição própria de identificação e uma de que existe um outro, um "não eu" para quem se dirigir. Sartre dizia que quando se fala em "Para-Si" não se deixa de encontrar alteridade na própria existência, podemos estabelecer relações com nós mesmos.
Entretanto, não foquemos na questão gramatical ou filosófica de alteridade, cabe aqui a questão do comportamento perante o outro. Quando conferimos a característica de "outro" em nossa ação e pensamento, estamos estendendo nossas particularidades a um espaço em que o que está à mostra pode ser apreendido por outrem ou pode apenas vagar na atmosfera. É um risco! Esse espaço sonoro, físico, visual quando adentrado, quando moldado por um ser-humano perante outro, pode ser aceito, pode ser descoberto, pode ser interpretado e assim chegamos ao fenômeno da comunicação, pautando e perpassando o que conhecemos como as nossas relações.
As diversas linguagens existentes para codificar o pensamento e sua transmissão são catalisadores de possíveis vislumbres de comportamentos. Um comportamento só pode ser caracterizado como tal à medida em que conseguimos vislumbrar sua imagem em um espaço e nos relacionarmos com ela, compreender é saber se relacionar com a produção alheia, e o ambiente que propicia esse encontro entre seres é o responsável por transportar nossas relações.
O ambiente é um trem carregado de carga, e a carga é a nossa bagagem, bagagem intelectual, sentimental, tradução pura de nosso ser. O ambiente então poderia interferir e favorecer a tenacidade de nossos encontros com semelhantes tão incisivamente quanto o conteúdo de nossos pensamentos? É possível! As circunstâncias já moldam as adjetivação, o que é um indício de que podem moldar também o sentido (há quem diga que o significante - que no caso aqui consideraremos como o adjetivo - seja todo o sentido).
Uma mulher apaixonada e disposta a tudo por seu amor, se apenas namorada de um homem contempla a personificação de "apaixonada irrefreável", em contrapartida, a mesma mulher enamorada de um homem, mas um homem que seja já comprometido matrimonialmente pode ser rotulada de "egoísta" e "vigarista" por seus ímpetos. Moralidades opostas e um mesmo sentimento. A forma como esses dois casais irão se relacionar, assim como a forma como adjetivamos tais relações, é também diferente.
As circunstâncias favorecem e desfavorecem as relações nos seus mais sutis detalhes. Não se necessita de longas distâncias geográficas ou diversificação de cultura e religião para que nossa existência e liberdade de comunicação e conhecimento de um outro sejam perturbados. Às vezes me pergunto, relacionamentos fadados ao fracasso realmente existem? Conseguiremos fazer um teorema meticulosamente calculado para reconhecê-los? Talvez existam, a física ainda é um tanto arisca aos nossos parcos padrões de tradução e comunicação, mas a aleatoriedade da vida implica em nossa liberdade de expressão em seus mínimos detalhes, como seria a experiência de se poder ter a comunicação perfeita? Seria a salvação das relações como as conhecemos?
Há uma máxima de Charles Darwin: "Não é o mais forte da espécie que sobrevive, nem o mais inteligente. É aquele que melhor se adapta as mudanças." Relacionamentos estão em constante mudanças, assim como os seres, saber avaliar essas mudanças e ser entendido em cada avaliação pelo outro é a chave e talvez a "magia" entre dois seres, por isso best sellers não exitam em glorificar o diálogo e os psicoterapeutas também. Saber se expressar em circunstâncias adversas, delimitando o próprio querer, o próprio amor e a própria expectativa é um passo para que rompimentos efusivos e desesperados entre pessoas não ocorram. Porque afinal, a maioria dos distanciamentos entre indivíduos é puro mal-entendido.
quarta-feira, 5 de junho de 2013
Clarice se inclina a acreditar que a vida em nossa esfera óptica seja um engodo maior que em relação à esfera onírica. Tem pirraça moral constante para conseguir manter a lógica e racionalidade, e necessita de jogos mutiladores do seu aspecto físico e confabulante. A música parece mais próxima da realidade derradeira e do sentido derradeiro que uma interlocução débil. Sofrer por amor, ela pensa e abstrai, é uma expiação enganosa de todas as esferas, cognitivas, psicológicas, e se pergunta: "Nos traímos quantas vezes em um espaço sonoro?"
quinta-feira, 23 de maio de 2013
Carolina tinha os cabelos castanhos e a pele amendoada, não os olhos, os olhos eram cinzentos, ah, as janelas da alma! Carolina acorda as seis da manhã e passa batom cor carmim para ressuscitar a alma, não quer mais trabalhar em pronto atendimentos, acredita que a vida seja natural assim como a morte. Entretanto, se sente com o ego ferido, esfaqueado e para não entrar em choque tenta um último paliativo, vai contra suas próprias regras, vai contra seus princípios, Carolina tenta usar o véu humano da sobriedade, talvez ela consiga comer ou se sentar à mesa, com algum esforço. Os olhos fundos estão sendo cantados e encontrados por aí, Carolina não ama ninguém e talvez queira não ser amada, Carolina quase come as pessoas em seu sortilégio de cada dia, talvez tenha se perturbado com sua fraqueza diante de uma semana mal vivida, uma vida de aprendizado para uma queda tão vil. Carolina quer se esfaquear, mas não sabe fazer isso, tem asco do próprio sangue e da própria desilusão previamente criada para que chegasse a esse ponto de despersonificação induzida. Carolina não tem nome, deveras, só cadernos e rascunhos pretensiosos. "Carolina, com seus olhos fundos, guarda tanta dor, a dor de todo esse mundo."
quarta-feira, 22 de maio de 2013
Há experiências e acontecimentos súbitos movidos pela volição incontida que realmente revelam em um instante o mais íntimo de alguém do que alguns anos de irrisória iniciativa pessoal para com os outros. Quando configurar um dano ou perda material é base para acordo de um término de relacionamento a situação neurótica parece ter chegado ao extremo. Agir como se o mundo fosse terminar onde o desejo não satisfeito termina constitui cerne de atitudes vulgares de cada dia e cada noite mundana. Particularmente, acredito que essas situações tenham apelo ao bom desenvolvimento do ego no decorrer da vida, embora unicamente quando em restrição, quando em tempo limitado. Situações extremas devem ser experimentadas com gosto, em todos os seus âmbitos, lados e pontas, deve-se deliciar-se com cada tênue limite perpassado, cada notória mudança de conduta ininteligível e idiossincrática. Eis mesmo um cenário de beleza! Entretanto, fazer dessas um hábito gera asco e sombra ao indivíduo, como toda repetição compulsória que antes deveria ser apenas fugaz (ou memorável) desconstrução ou reconstrução individual. Talvez uma situação extrema seja um engodo para nossas percepções de nós mesmos, ou viver no limite só ressalte o egoísmo ou empatia de cada um, como já previsto.
domingo, 19 de maio de 2013
Forjar o desencontro assim como forjar encontros não é lá tão louvável. Qual será o limiar da naturalidade? Qual será o limiar entre o acaso e nossa intervenção pró-ativa no desenrolar de momentos? É instigante imaginar que em dez anos uma pessoa pode não ter notícias de outra de quem gosta e em seguida se ver casada com a mesma com um simples telefonema permeando tais situações. As relações têm sido tão projetadas e somos tão obcecados por pessoas de quem não gostamos, sofremos por alguém que não nos interessa na realidade, no âmago. Eis nossos simulacros de esquiva à perda! Talvez a paz de espírito possa resolver ou salvar nossos relacionamentos.
terça-feira, 23 de abril de 2013
E se as telas e pincéis da Itália fossem espelhos e colinas da Irlanda? Um bárbaro captura a beleza tanto quanto um Sanzio. Enquadramos quase toda a beleza da vida que nos toca (seria um impulso primitivo?), eis um dos males da métrica, uma onipresença na expressão, eis a compulsão por achar, ou dar alguma exatidão em todo o caos da disposição natural. Talvez precisemos de um mínimo de aritmética para reconhecer a vida. Ser naturalista e transpor ecossistemas e universos em arte, mostrar o gosto parcial e sutil percepção de uma cognição, intercambiar imagens, intercambiando ideias, pela geometria, ser engajado através de um objeto "quadrado". "Pensar é estar doente dos olhos" dizia Caeiro, será verdade? Quadrados e suas pontas limitantes e ao mesmo tempo desbravadoras, pontas que delinearam história e delineiam críticas. Uma vida de ensinamentos pelo quadrado. A "Educação pela pedra" do Sr. João Cabral é antes a "Educação pelo quadrado"! A fotografia, o livro, o pergaminho, a tela. Plantar árvores através de um monitor é viável? E cá estamos, a pós-modernidade é tão "natural" para quem tem todo o aparato de carbono e silício, um contraponto ou um só ponto?
segunda-feira, 22 de abril de 2013
Arrebol de outono
Acreditando em acasos e ocasos ela se penteia e se pinta, usa fitas e borda a noite, talvez ela não saiba que a ilusão óptica é mais do que física, é toda a sua significância em uma mente que se projeta. Espera por um animal qualquer, deixa o fogo aceso e talvez faça alguma bebida quente, para não se sentir sozinha; pela janela folhas amassadas e secas, alaranjadas como o ocaso pelo qual espera e se pinta, a mesma cor, e as folhas têm os mesmos tons, e assim a chama, e assim sua polidez de cada dia. A física não lhe permite mais do que a enternecedora cor e calor de cada raio de luz, talvez seja melhor contratar pessoas que instalem cortinas, ela não é capaz. Anoitecendo a cortina se resolve, não precisa existir, e ela só pensa na manhã, cujo arrebol já não é capaz de a esquentar.
segunda-feira, 15 de abril de 2013
Não tenho a pretensão de ser científica, mas quero tratar da problemática do suicídio. Talvez seja antes uma questão moral e de delimitação da liberdade, que para mim se mescla à autonomia que é íntima à questão de se racionalizar sobre desejos. Seguir os impulsos não é ser livre, ponderar sobre eles e escolher um caminho sim. A racionalidade pauta a liberdade, pois. A angústia e a melancolia da vida, segundo um certo senhor estrábico do século passado, é consequência dessa ponderação livre e além disso, uma atitude pró-construtiva do ser humano, angústia vem da liberdade junto a suas implicações e responsabilidades. Eis uma introdução.
Gostaria antes do cunho literário ter atenção filosófica, a questão do suicídio tem perpassado meus estudos em psiquiatria e como emergência médica que é qualificada, tenho me atentado para a possibilidade de recusar a possibilidade patológica da questão ou talvez flexibilizar o patológico para o "naturalmente-humano" (demasiado humano, talvez). Tenho sido doutrinada para reconhecer o caráter de Transtornos Depressivos Maiores em pacientes e julgar seu risco de suicídio, internação seria um bom procedimento para tais pessoas, psicoterapia ativa e aviso prévio de familiares outra boa conduta. Bravo aos médicos, dai-nos o comprimido de cada dia! Entretanto, quando se analisa do ponto de vista moral, devo eu, agir a ponto de interferir na autonomia alheia? Acredito que tanto a patologia psiquiátrica da depressão, a qual possui um subtipo denominado melancólico, quanto o suicídio em si são consequências naturais, lineares e saudáveis do uso devido da liberdade.
Escolhas trazem angústia, angústia pode gerar quadros progressivos de tristeza, entretanto, não devo ter cortes ou intromissões no direito de escolha ponta pé para o desenrolar da sequência, não admite-se intromissões na autonomia de escolha, nesse ponto estão todos em pleno acordo, a constituição endossa. Admite-se, pois, intromissão sobre o que se fazer das consequências da liberdade? Ter garantido o direito ao suicídio deveria ser um mérito de nossas questões filosóficas de cada dia. O niilismo estaria correndo o risco de se extinguir por civilidade e ser taxado de transtorno patológico, como pude constatar em certo compêndio psiquiátrico? A ausência de sentido na vida é uma forma de observar e compreender a vida, não acredito que seja uma visão negativista ou realista, mas uma visão, de um panorama específico, assim como a visão de que a vida é bela, é regida por um deus ou é só uma ilusão sináptica.
Nossa cultura pós-moderna distorce a noção de humanidade, saúde, beleza, eis o ápice apolínico. O dionisíaco de cada um está em nossos impulsos cada vez mais violentados pelos recalques da etiqueta social. O freudiano do gozo tanto pela vida, quanto pela morte que nos é intrínseco está privado em regras de bons costumes e rótulos em que se escreve "patológico". A vida é patológica, o ar é patológico e nos oxida! Respeitar o transtorno que cada um exige, compra, mimetiza para si é preciso, o respeito em seu conceito se perdeu, a conveniência respeitosa prepondera. O fato se encerra em que nem a psicanálise, nem a medicina salvam a sociedade de sua mazela moral a que todos se submetem e se despersonificam no decurso. Movimentos por autonomia seriam mais dignos do que movimentos remediadores por legalizações de assuntos discordantes, a polêmica existe em detrimento do desrespeito à liberdade de viver ou morrer que cada indivíduo carrega consigo, inalienável autonomia da existência.
terça-feira, 26 de março de 2013
Fazendo meu próprio café
Acredito que a gramática dificulta o alumbramente, para utilizar o melhor termo, do melhor poeta. Gostaria de inventar uma nova ferramenta, uma nova inteligência para o desenvolvimento da racionalidade, eis uma boa ambição.
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