segunda-feira, 22 de julho de 2013
Doravante Dora deixa de lado seu nome e tenta estigmatizar sua planta, deseja que a planta seja sua transcendência, seja toda a natureza que ainda não percebeu. Dora sabe naturalizar-se, mas prefere modificar sua cota de exposição ao mundo e tentar aborrecer as plantas como uma bruxa de realidade perdida. Sua avó, dizem, era uma bruxa, sabia cultivar as ervas e nenhum de seus filhos jamais a viu com os cabelos presos ou deitada em uma cama. Dora se regozijava em ver as cerejeiras em flor da casa de sua avó, imaginava que seu poder de transformação estaria contido nelas, como uma criança acredita que pode conseguir algo apenas por uma condição específica, mas sem nexo das circunstâncias. Dora teve dois amantes efêmeros que a consumiram até a dissipação do espírito aventureiro que possuía, talvez tenham sido vampiros, ela diz, ou talvez tenha sido sua doença, nasceu assim, imprópria para a vida, não tem os mecanismos homeostáticos necessários para se preservar dos males do Sr. Oxigênio. Deveria tentar o Hélio? Já era noite e ela caminhava com marcha anormal pela rua erma da casa de sua avó, a mansão sem luz indicava que o tempo já era psicológico, ela estava certa de ver três gerações à mesa de jantar. Talvez os cupins se encarregassem de destruir um pedaço do que foi preservado meticulosamente pela neta, talvez os cupins se encarregassem de trazer de volta os namorados corroídos de dentro para fora. As ervas poderiam ajudar, as cerejeiras também, mas somente se o ar não estivesse tão viciado e o Oxigênio, não tão distinto como o era no passado, não lhe fosse tão nauseante.
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