quarta-feira, 24 de julho de 2013

Entre "nadólogos" e niilistas

Balzac, em determinada ocasião, chamou aos jornalistas de “nadólogos” (em francês “rienologues”, de “rien”, nada), serão os filósofos e poetas mais que "nadólogos"? Não serão os jornalistas antes "amplificadores de nadólogos"? Há algo além do niilismo nos furos e incompletudes das teorias físicas, psicológicas e linguísticas? O trabalho mental que nos consome nos levará além do vão, do abismo que existe na forma de "não-existir em si" a cada nada em que tropeçamos no fim de cada jornada finda? Será o fim mais que isso? Devemos enxergar o fim como conclusão de objetivos quando positivo, mesmo que na "conclusão" já esteja embutido um "nada" à posteriori? Insistir na vida é uma atitude "nadóloga" e poética, entender a vida talvez seja ter a postura peremptoriamente niilista e assim se dividem os homens.

Homem de Aço, filme

Acabo de assistir ao filme Homem de Aço (Man of Steel, Warner Bros, 2013) e definitivamente, não me agradou. Faço parte do público que vai aos cinemas assistir a filmes de super-heróis sem a pretensão de esperar mais do que um bom filme. Fidedignidade com os quadrinhos não faz parte das minhas expectativas, partindo do princípio de que não sou leitora dos mesmos. Homem de Aço quebra um paradigma atual dos filmes de heróis que têm sido feitos desde o início do século para cá, filmes com coerência e senso de adaptação à realidade. O filme é caótico, a destruição é sem sentido ou direção e o foco é dado aos efeitos especiais (muito bem feitos, por sinal), não se sabe bem durante as várias cenas de luta e guerra aonde a personagem principal está indo ou onde se passam as lutas paralelas. A incoerência do filme traz ainda uma Lois Lane (Amy Adams) onipresente, não importa onde o Homem de Aço caia depois de longas lutas, lá está ela com seu apoio a seu salvador, bem ao seu lado. Os diálogos são escassos e pouco dignos de nota e a forma como o filme tem seu desenlace é de certa forma ilusória e sem sentido, tanto físico quanto da trama em si, mesmo para um filme próprio de ficção/ação. O humor é pouco refinado, destaque para uma péssima cena final em que uma policial tem um close no sorriso e diz que o Superman é um tanto quanto "sexy". Talvez tenha sido essa a única parte realmente digna de nota no filme. Essa semana vi a notícia de que esse Superman irá fazer um filme com o Batman, provavelmente não será o excelente Batman de Christian Bale. Não há como comparar as duas personagens. A última trilogia Batman, é claro, supera de longe em inteligência, construção e personagem em si tal filme do Homem de Aço. As atmosferas das personagens são também bastantes distintas. Superman remete mais ao panorama ilusório das histórias incríveis, com seus poderes, naturalidade de outro planeta, enfoque dos tipos de vilões e claro, com sua indestrutibilidade, características fora da realidade; Batman já tem um apelo real, com medos e situações plausíveis, bem construídas, é ainda um homem, sem poderes sobre-humanos, os inimigos são fruto de uma sociedade desigual e desequilibrada e a distinção entre bem e mal não é tão maniqueísta. Como juntar os dois super-heróis? Eis um belo desafio que não sei como ainda poderá ter boa fusão, ou, claro, coerência, mas, estamos falando de um filme do Superman, onde o impossível é a marca. Talvez a beleza de Clark (Henry Cavill) na tela ainda conquiste alguns expectadores, beleza muito parecida com a do ator da série Smallville (Tom Welling), mas, o filme em si segue antes a linha de filmes de catástrofes hollywoodianas à de verdadeiros super-heróis, é bom alertar.

segunda-feira, 22 de julho de 2013

Doravante Dora deixa de lado seu nome e tenta estigmatizar sua planta, deseja que a planta seja sua transcendência, seja toda a natureza que ainda não percebeu. Dora sabe naturalizar-se, mas prefere modificar sua cota de exposição ao mundo e tentar aborrecer as plantas como uma bruxa de realidade perdida. Sua avó, dizem, era uma bruxa, sabia cultivar as ervas e nenhum de seus filhos jamais a viu com os cabelos presos ou deitada em uma cama. Dora se regozijava em ver as cerejeiras em flor da casa de sua avó, imaginava que seu poder de transformação estaria contido nelas, como uma criança acredita que pode conseguir algo apenas por uma condição específica, mas sem nexo das circunstâncias. Dora teve dois amantes efêmeros que a consumiram até a dissipação do espírito aventureiro que possuía, talvez tenham sido vampiros, ela diz, ou talvez tenha sido sua doença, nasceu assim, imprópria para a vida, não tem os mecanismos homeostáticos necessários para se preservar dos males do Sr. Oxigênio. Deveria tentar o Hélio? Já era noite e ela caminhava com marcha anormal pela rua erma da casa de sua avó, a mansão sem luz indicava que o tempo já era psicológico, ela estava certa de ver três gerações à mesa de jantar. Talvez os cupins se encarregassem de destruir um pedaço do que foi preservado meticulosamente pela neta, talvez os cupins se encarregassem de trazer de volta os namorados corroídos de dentro para fora. As ervas poderiam ajudar, as cerejeiras também, mas somente se o ar não estivesse tão viciado e o Oxigênio, não tão distinto como o era no passado, não lhe fosse tão nauseante.

sexta-feira, 19 de julho de 2013

Uma roseira é um pé de romãs

O vento faz com que a janela bata desenfreadamente e gela minha pele descoberta. A cama não parece ser do tamanho adequado, um pouco maior em comprimento, um pouco menor em largura e talvez um pouco mais tenra que o devido. Há uma roseira na casa vizinha que me lembra o pé de romãs daquele conto de fadas, e eu à dormir como se minha vida fosse dessa espécie. Tenho água e livros, tenho mais vida entre quatro paredes do que na rua, ao vento. O vento vem até mim. As janelas agora são minhas cúmplices, estou me desarticulando da verbalização e elas ajudam, se responsabilizam por toda a balbúrdia necessária e me deixam com a modificação silenciosa, todo esse embaraço de cabelos soltos, ao vento e ao quarto.

Inverno ameno dos trópicos com mamãe

É a segunda vez na semana que mamãe lava o alpendre, é a segunda vez na semana que ela parece se sentir um pouco mais espirituosa. Não reclamou ainda de que a noite anterior se estendeu um pouco mais devido à visita de meus primos, nem das risadas incontroláveis que ecoavam por toda a velha casa da vovó. Mamãe disse que é preciso lavar o alpendre toda semana e isso inclui lavar a calçada também, mas não creio que haja tanta necessidade assim, talvez eu seja um tanto relapsa com casa e limpeza, mas tal hábito jamais existiu em mim, em meu dia, então, não me culpo por ser um pouco alheia. Acordada desde as sete da manhã, perece que o sol das oito é o mais revigorante, talvez seja só o sol do inverno, inverno ameno dos trópicos, que tem me deixado mais tolerante à luz natural. Mamãe pintou os cabelos ontem, estão tão pretos, tão bonitos! Ela fará cinquenta anos mês que vem, uma idade em que se começa a ser sábio, ou a se ganhar tal status, só se é realmente sábio na proximidade com a velhice, a idade chega a ser uma característica agregada e essencial da sabedoria. Mas mamãe tem os traços joviais e o corpo também, talvez isso desvie um pouco o olhar sobre sua sabedoria, embora para mim ela tenha sido mestre desde o princípio, não poderia ser diferente. Essa semana tive um sonho em que me diziam que o meu defeito era ser muito jovem, que eu tinha quase todas as qualidades que interessavam à uma pessoa, mas perdia a credibilidade de todas elas por ser tão jovem! Foi um sonho de angústia, talvez eu quisesse que minhas qualidades fossem salientadas nele, mas também gostaria de poder ter sido mais velha nele, que desejos não realizáveis essa parte esconde? Farei uma melhor análise comigo mesma logo mais. Mamãe hoje sonhou com um cadeado, não conseguia fechá-lo ou abri-lo, foi o que ela me disse. Perguntei se era o cadeado do portão daqui de casa, ela disse que sim. Acho que ela realmente queria mandar embora os sobrinhos ontem à noite, mas não reclamou, só em seu sonho. Mamãe é muito diligente, já está acabando a limpeza e depois pensará no almoço e me pedirá para buscar minha irmãzinha na escola. Ela poderia se sentar, ler, tomar um café, contar algo sobre si mesma, mas o espírito de ser útil lhe corrompeu tanto que não sei se o retorno para momentos de calmaria e reflexão serão feitos na minha presença opressora de filha. Opressora pois eu a lembro da realidade e de responsabilidades. Eu sou a responsabilidade personificada para ela. Às vezes mamãe diz que deseja viajar, ir à praia, não se preocupar. Esse não-stress não depende da praia, mas eu não conseguirei fazer com que ela se permita, minha explicação ou observação também são inúteis, sou a mera personificação de responsabilidade!

quarta-feira, 17 de julho de 2013

E as férias de julho, que tal?

E vamos falar das férias, das minhas em específico; elas até que estão cumprindo seu papel. Tenho descansado, regulado meu ciclo sono-vigília, que nos últimos meses estavam um verdadeiro contínuo de vigília, interrompida por cochilos intransigentes. Tenho dedicado tempo a leituras aprazíveis e caminhado ao entardecer, após o café. Novos ares, e até uma gripe providencial veio me agraciar também! Ah, porque a doença é providencial algumas vezes! A gripe, que é claro, foi um mero resfriado, me deixou perceber melhor os meus limites físicos e por que não, também os mentais? Há sempre um vislumbre de novo "eu" quando adoecemos, seja um "eu" carente, seja um "eu" reflexivo e que se propõe atentar para novas medidas dessa existência frágil. Na doença fiz grandes progressos no sentido "férias para se (e si) curtir", seja por deixar meu espírito mais feliz provando novos chás e os adocicados mil da culinária curandeira mineira, seja por entrar em contato com certa meditação que surge espontaneamente com o ficar de pijama através do dia e se deixar ficar parado ao sol após ter acabado de acordar! Essas sutilezas da doença providencial contribuíram significativamente para meu descanso mental. Ainda sobre minhas impressões desses dias de ócio, mas nem tanto, descobri que me emociono com jogos de futebol mais do que imaginava, estou muito ligada ao possível título da Libertadores da América do meu querido time Atlético Mineiro! Ah, esse emocional primitivo e bruto que insiste em se manifestar e que tenho certeza, vai além do meu pobre inconsciente vazio! E já que vim para esse lado da conversa, descobri que Lacan e os estruturalistas me chamam mais a atenção do que eu imaginava! Tenho dedicado um tempinho a eles também, por esses dias. Outra leitura interessante que tive hoje foi sobre a "Teoria das Descrições" do Russell, a filosofia da linguagem às vezes é tão matemática! Estou começando a me desligar da antiga rotina, mas sei que minhas próximas e últimas duas semanas de transcendência rotineira não sobreviverão mais que seu tempo contado, meu desejo é, pois, estar cansada do descanso até que as aulas recomecem! Façam figa por mim, e pelo "Galo" também, caros leitores!

segunda-feira, 24 de junho de 2013

Sobre os protestos

Sobre a questão das manifestações e protestos no Brasil, quero pontuar algumas questões, sem pretensões de dogmatismos ou tomadas de direita, esquerda e variáveis. Desde o início nota-se um caráter rizomático no protesto, que se estende a vários setores do denominado "bem comum", levando por vezes a um paradoxo protestante. Quando vai as ruas, um indivíduo segurando cartaz pode notar um protesto por razões opostas ao olhar para o cartaz da pessoa ao seu lado, eis uma diversidade um tanto intrigante. O mérito do movimento espontâneo e coroado pela paixão e indignação comum tem em contrapartida o demérito de não possuir demanda específica. Há certo aguardo de um líder por alguns, ou uma liderança, para que se gere credibilidade, para outros a extinção de qualquer exibição de cargo de poder é o cerne do movimento, cerne perigoso. O que se aguarda, de fato, embora ainda não de forma muito contundente é uma resposta qualquer. Houve a resposta para o aumento da tarifa, núcleo inicial dos protestos, mas tal resposta parece destoante agora das pretensões estendidas da indignação, relativas a diversos setores. Pode-se dizer que além das respostas aguardam-se consequências, mas quais são realmente as perguntas e reivindicações chave? O PEC 37 se destaca, saída de Renan Calheiros do Senado também. Mas há falta de articulação no movimento com relação à estes, e com ela, falta de intelectualização. Aliás, a intelectualidade está em abstenção ou não quer receber esse título até o momento. As redes sociais propiciam protestos des-intelectualizados, permitem a integração de todos ao projeto, mesmo que não queiram racionalizar sobre o problema, pode-se apenas protestar. A obtenção de uma resposta em Brasília parece ser a direção mais evidente para um desenlace, contudo a presidente não se posiciona ou faz discursos de valia, seja pelo seu despreparo, por sua falta de opinião, ou por ter sido preparada como sucessora de um partido e não como pessoa política competente para o seu cargo. Um desfecho perigoso que tem vindo à tona é a abolição dos partidos. Há quem clame por isso. Uma mostra de que a indignação brasileira precisa se refinar ainda, pois a solução de problemas civis não deve ser apolítica; acabar com um sistema funcionante de organização pública é um viés de alguns desinformados protestantes que provam ser as manifestação no Brasil distantes das as de um país desenvolvido, ou no mínimo politizado. A dificuldade em dar resposta para as manifestações diversas e a generalização das ideias do protesto persistem. Os manifestos que pegaram carona com a tarifa de ônibus correm o risco sim de ficarem sem resposta resolutiva. O movimento Passe Livre, que creio não chegará a conseguir seu real intento com tais manifestações, tanto que se absteve momentaneamente de protestos após o anúncio da redução da tarifa em São Paulo, tem um ideal que implica no direito de ir e vir da população, reconhece que o estado deve garanto-lo. Outro ponto é o do dinheiro público financiando o transporte individual com os IPIs reduzidos anunciados, um engodo, mas quanto a este não vi ainda protestos sobre. Ainda sobre o desfecho de tais movimentos, há quem diga que quem se beneficiará seja a extrema esquerda. Há a desmoralização do congresso, políticos e democracia brasileira, esta principalmente a nível internacional. A imagem de um grande Brasil, país do futuro, está se transformando em um conto do vigário na Europa; o tal futuro glorioso do Brasil caiu na taxação de falsa propaganda internacional. A diminuição dos investimentos no país me parece uma consequência econômica a médio prazo, a instabilidade não sai de graça. A curto prazo o progresso econômico parece se restringir à ocupação das ruas e ao bloqueio da movimentação física, sem passagem, há estagnação física e de capital regional. Pode ser que o movimento esfrie, as férias escolares podem agora jogar à favor do governo, nesse caso, pode ser que cada vez mais baderneiros venham a se aproveitar, vindo a justificar uma repressão mais forte ou um caos geral. Mas, tenho esperanças de que o movimento perdure até que se consiga racionalizar sobre ele, que se possa levar de forma refinada os ideais que são íntimos dos brasileiros a uma concretização e consolidação política.