segunda-feira, 24 de junho de 2013
Relacionamentos
Relacionamentos podem abarcar para si várias nuances. Romancistas podem-se utilizar de inúmeras e rebuscadas adjetivações. Falemos dos relacionamentos em um plano geral: Alguns são efêmeros e intensos, outros insossos e duradouros, as qualidades podem se mesclar e assim conhecemos e nos envolvemos ao léu. A capacidade do ser humano de se relacionar exige uma condição própria de identificação e uma de que existe um outro, um "não eu" para quem se dirigir. Sartre dizia que quando se fala em "Para-Si" não se deixa de encontrar alteridade na própria existência, podemos estabelecer relações com nós mesmos.
Entretanto, não foquemos na questão gramatical ou filosófica de alteridade, cabe aqui a questão do comportamento perante o outro. Quando conferimos a característica de "outro" em nossa ação e pensamento, estamos estendendo nossas particularidades a um espaço em que o que está à mostra pode ser apreendido por outrem ou pode apenas vagar na atmosfera. É um risco! Esse espaço sonoro, físico, visual quando adentrado, quando moldado por um ser-humano perante outro, pode ser aceito, pode ser descoberto, pode ser interpretado e assim chegamos ao fenômeno da comunicação, pautando e perpassando o que conhecemos como as nossas relações.
As diversas linguagens existentes para codificar o pensamento e sua transmissão são catalisadores de possíveis vislumbres de comportamentos. Um comportamento só pode ser caracterizado como tal à medida em que conseguimos vislumbrar sua imagem em um espaço e nos relacionarmos com ela, compreender é saber se relacionar com a produção alheia, e o ambiente que propicia esse encontro entre seres é o responsável por transportar nossas relações.
O ambiente é um trem carregado de carga, e a carga é a nossa bagagem, bagagem intelectual, sentimental, tradução pura de nosso ser. O ambiente então poderia interferir e favorecer a tenacidade de nossos encontros com semelhantes tão incisivamente quanto o conteúdo de nossos pensamentos? É possível! As circunstâncias já moldam as adjetivação, o que é um indício de que podem moldar também o sentido (há quem diga que o significante - que no caso aqui consideraremos como o adjetivo - seja todo o sentido).
Uma mulher apaixonada e disposta a tudo por seu amor, se apenas namorada de um homem contempla a personificação de "apaixonada irrefreável", em contrapartida, a mesma mulher enamorada de um homem, mas um homem que seja já comprometido matrimonialmente pode ser rotulada de "egoísta" e "vigarista" por seus ímpetos. Moralidades opostas e um mesmo sentimento. A forma como esses dois casais irão se relacionar, assim como a forma como adjetivamos tais relações, é também diferente.
As circunstâncias favorecem e desfavorecem as relações nos seus mais sutis detalhes. Não se necessita de longas distâncias geográficas ou diversificação de cultura e religião para que nossa existência e liberdade de comunicação e conhecimento de um outro sejam perturbados. Às vezes me pergunto, relacionamentos fadados ao fracasso realmente existem? Conseguiremos fazer um teorema meticulosamente calculado para reconhecê-los? Talvez existam, a física ainda é um tanto arisca aos nossos parcos padrões de tradução e comunicação, mas a aleatoriedade da vida implica em nossa liberdade de expressão em seus mínimos detalhes, como seria a experiência de se poder ter a comunicação perfeita? Seria a salvação das relações como as conhecemos?
Há uma máxima de Charles Darwin: "Não é o mais forte da espécie que sobrevive, nem o mais inteligente. É aquele que melhor se adapta as mudanças." Relacionamentos estão em constante mudanças, assim como os seres, saber avaliar essas mudanças e ser entendido em cada avaliação pelo outro é a chave e talvez a "magia" entre dois seres, por isso best sellers não exitam em glorificar o diálogo e os psicoterapeutas também. Saber se expressar em circunstâncias adversas, delimitando o próprio querer, o próprio amor e a própria expectativa é um passo para que rompimentos efusivos e desesperados entre pessoas não ocorram. Porque afinal, a maioria dos distanciamentos entre indivíduos é puro mal-entendido.
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Suas reflexões reforçaram bastante algo que certa vez ouvi e concordei: as mulheres, no que tange aos relacionamentos, são mais maduras que os homens.
ResponderExcluirAbraço.