segunda-feira, 24 de junho de 2013

Sobre os protestos

Sobre a questão das manifestações e protestos no Brasil, quero pontuar algumas questões, sem pretensões de dogmatismos ou tomadas de direita, esquerda e variáveis. Desde o início nota-se um caráter rizomático no protesto, que se estende a vários setores do denominado "bem comum", levando por vezes a um paradoxo protestante. Quando vai as ruas, um indivíduo segurando cartaz pode notar um protesto por razões opostas ao olhar para o cartaz da pessoa ao seu lado, eis uma diversidade um tanto intrigante. O mérito do movimento espontâneo e coroado pela paixão e indignação comum tem em contrapartida o demérito de não possuir demanda específica. Há certo aguardo de um líder por alguns, ou uma liderança, para que se gere credibilidade, para outros a extinção de qualquer exibição de cargo de poder é o cerne do movimento, cerne perigoso. O que se aguarda, de fato, embora ainda não de forma muito contundente é uma resposta qualquer. Houve a resposta para o aumento da tarifa, núcleo inicial dos protestos, mas tal resposta parece destoante agora das pretensões estendidas da indignação, relativas a diversos setores. Pode-se dizer que além das respostas aguardam-se consequências, mas quais são realmente as perguntas e reivindicações chave? O PEC 37 se destaca, saída de Renan Calheiros do Senado também. Mas há falta de articulação no movimento com relação à estes, e com ela, falta de intelectualização. Aliás, a intelectualidade está em abstenção ou não quer receber esse título até o momento. As redes sociais propiciam protestos des-intelectualizados, permitem a integração de todos ao projeto, mesmo que não queiram racionalizar sobre o problema, pode-se apenas protestar. A obtenção de uma resposta em Brasília parece ser a direção mais evidente para um desenlace, contudo a presidente não se posiciona ou faz discursos de valia, seja pelo seu despreparo, por sua falta de opinião, ou por ter sido preparada como sucessora de um partido e não como pessoa política competente para o seu cargo. Um desfecho perigoso que tem vindo à tona é a abolição dos partidos. Há quem clame por isso. Uma mostra de que a indignação brasileira precisa se refinar ainda, pois a solução de problemas civis não deve ser apolítica; acabar com um sistema funcionante de organização pública é um viés de alguns desinformados protestantes que provam ser as manifestação no Brasil distantes das as de um país desenvolvido, ou no mínimo politizado. A dificuldade em dar resposta para as manifestações diversas e a generalização das ideias do protesto persistem. Os manifestos que pegaram carona com a tarifa de ônibus correm o risco sim de ficarem sem resposta resolutiva. O movimento Passe Livre, que creio não chegará a conseguir seu real intento com tais manifestações, tanto que se absteve momentaneamente de protestos após o anúncio da redução da tarifa em São Paulo, tem um ideal que implica no direito de ir e vir da população, reconhece que o estado deve garanto-lo. Outro ponto é o do dinheiro público financiando o transporte individual com os IPIs reduzidos anunciados, um engodo, mas quanto a este não vi ainda protestos sobre. Ainda sobre o desfecho de tais movimentos, há quem diga que quem se beneficiará seja a extrema esquerda. Há a desmoralização do congresso, políticos e democracia brasileira, esta principalmente a nível internacional. A imagem de um grande Brasil, país do futuro, está se transformando em um conto do vigário na Europa; o tal futuro glorioso do Brasil caiu na taxação de falsa propaganda internacional. A diminuição dos investimentos no país me parece uma consequência econômica a médio prazo, a instabilidade não sai de graça. A curto prazo o progresso econômico parece se restringir à ocupação das ruas e ao bloqueio da movimentação física, sem passagem, há estagnação física e de capital regional. Pode ser que o movimento esfrie, as férias escolares podem agora jogar à favor do governo, nesse caso, pode ser que cada vez mais baderneiros venham a se aproveitar, vindo a justificar uma repressão mais forte ou um caos geral. Mas, tenho esperanças de que o movimento perdure até que se consiga racionalizar sobre ele, que se possa levar de forma refinada os ideais que são íntimos dos brasileiros a uma concretização e consolidação política.

Um comentário:

  1. Também torço para que o ativismo político deflagrado nas últimas semanas continue. E como você bem disse, o silêncio de muitos intelectuais realmente chama a atenção. Contudo, o Tom Zé cantou: http://t.co/JF7qUOdjD3
    Abraço.

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