quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Vamos à sensação!



À Espera, de Milt Kobayashi
Estar 'esperando' não me parece o mesmo que estar 'à espera'.
Estar à espera é aguardar algo que pré-visualisamos, mas não temos certeza se ocorrerá nas nossas circunstâncias; é um esperar para qualquer momento, esperar uma surpresa, é o sentir empiricamente a espera, a chegada. Já o estar esperando é previsível, certo, é estar somente esperando - já há um fato - acontecer o que já sabíamos, diga "Estou esperando" e em seguida "Estou à espera", oh, quanta diferença, quanto de espírito ganhamos na segunda vez!
É preciso desejar para estar à espera, é preciso imaginar, criar, ter a ilusão de um futuro arrebatador. Por que estamos à espera? Por esperança de dias, momentos perfeitos? (Não, definitivamente!) Não queremos saber quando e como e onde; queremos que ocorra, e quanto mais inusitado, quanto mais desvirtuado do caminho, mais nos entregamos, mais queremos nos envolver, entender, esperar para sentir. O estar à espera tem um gosto, toque mais sensível do que a consumação.

terça-feira, 3 de novembro de 2009

Como a cidade não me diz nada.


Afinal, onde é Pasárgada?
Sinais?
Onde? Um sinal? Como tudo está embaçado!
Tudo bem, o rei não vai querer uma mulher em meu estado, nem eu "quererei" a ele em meu estado, estou prestes a recusar Pasárgada? Que desvario, não estou, voltemos. Alguém pode fazer um sinal, mostrar a estrada?
"A realidade é uma ilusão causada por falta de drogas!"

Não sei quem o disse, mas estou inclinada a acreditar por pura pirraça moral ou mesmo porque crenças nos vem ao acaso, sem explicações.
Mas não é crença, enfim, só achei divertido, valia a pena citar a máxima! (:

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Bem guardada

Agora, está pronta?
Sente-se melhor?
Pois não reaja, é tudo certo
Tudo para o seu bem
E se achar que não
Está sem condições
Alego tudo, quero seu bem
Nota a proteção, não é digna?
Excelente, pode entrar
Entre, sim, estou aqui
Eu não, não posso
Penso em você
Por favor, não quero ser rude
É para ti, sim, tudo
Sim, é quente
Nada falta
Exceto janelas
Mas quem precisa de vista?
Há aqui o melhor
Sossegue, pois.

domingo, 1 de novembro de 2009

Porque estou tocada, estou inclinada a viver com menos pudor, ser menos ‘trovadora’ e mais estupor! Queria muito poder dizer isso ao meu amigo particular, à minha consciência concupiscente. Talvez a paz de espírito esteja melhor inserida nas aquisições a curto prazo que nas longas, talvez, não há mais que minha falta de humor para a piada repetida, mas como isso me alegra, como estou mais coesa com meu escárnio sem precedentes.
Não pensei em escrever, mas sentei-me aqui e estou tão confortavelmente sentada que minha mente não pensa, escreve, e eu que não sabia que as mentes se correspondiam eletronicamente, na varanda, nas pontes, mas não sinto ser tarde para uma escrita menos hermética, não sinto que duas semanas são pouco, não é fácil lidar com a desestrutura alheia, mas por que não? Por que não dizer sim a tudo, todos, aos bailes, aos vestidos guardados. Não usarei reticências, pois prefiro completar tudo, prefiro ligar, chamar a ser passiva e me desesperar com a não-correspondência, prefiro ser mais forte e dar a cara a tapa, pois o tapa pode não só deixar o vermelho como também a inspiração para jogar-me ao vento do meu desejo, das minhas cartas não escritas, não entregues, não pensadas.

(esboço)

Sob a luz do teu Hall

O vermelho das espáduas ao sol
É risível tua falta de tato
Não jogas, não choras, nem...
Onde está Clarissa?
O tempo de tuas iminentes explosões
Oh, onde estão os cadernos?
Levá-los-ei, são antes da doença
E, olhas, não há mais excessos
Nem cantos, nem sangue
Como aqui é vil, pusilânime
Esconde-te de teus brios
De tuas vontades, teus gritos
Nem ar há! O que, a que, aspiras?
Meu colo não possui tuas marcas, não mais
Aposto como dói, deveria arder
Viver, ah, não foi viver, doença, diga!
Tua amante dos escarlates dias
De tua madura escolha de dias curtos
E não possuías essas cãs, esses gatos
Retrocesso, obscurantismo,
Luz vermelha, mal o vejo, querido
E parei para rever-te, eis tudo
Apague a luz se quiser