terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Para Sartre

Pesadelos de veludo na pele desgastada
Pesadelos do Em-Si
Nada de formalidades para falar da existência hoje
Nada de psicanálise no monólogo
Uma folha em branco e uma vida sem tinta, jogo dos sete erros, semelhança de triângulos. Quanto de humanidade há em cada passagem respiratória? Quanto se pode salvar e se deve? Nada de perguntas de respostas inevitavelmente irremediáveis, tudo muda, roda, só a vida retorna a si mesma pela semelhança não evolutiva dos hábitos de homens e mulheres e de homem e mulher. Vícios e desenrolares de olhares, força de vontade e genética, carícias e desistências, tudo vida, tudo morte. A garota com a camiseta deslocada, ombro deslocado, cabelos emaranhados, está em si mesma. Formigas e baratas em casas habitadas por vestígios de mocidade em garrafas, em discos, em panos de prato e em mesas de jantar. Afogamentos incendiados por vizinhos desonestos, desocupados, adjetivados sempre, vizinhos são.
Começar um romance, retomar uma amizade, vingar a colheita ao se vingar a si próprio. Barracas de acampamento perturbam os tais vizinhos de cada um, barracas na piscina, barracas na geladeira, contra os ventos, a favor de intimidade, onde quer que ela esteja. Garotinhas em shorts e camisetas, caminhando, em busca do nada ainda, quando a busca começa a fazer sentido é porque já não vale tanto, é porque já se foi o tempo de experimentar a busca, de transcorrer mundos por ela, de usar mochilas por tudo e por necessidade.
O telefone que era vermelho e agora é só plastificado e móvel anseia por um sinal de danificação permanente, servir a incômodos não é papel para objetos, mesmo os menores, mesmo os sensíveis e quebráveis. Fizeram um café, hoje é aniversário de um desconhecido e de um próximo que não posso tocar, hoje. Resta ligar, ser inútil, mostrar que não posso fazer nada hoje através dos aparelhos plásticos.
A chuva torna os sentimentos mais pungentes e minha personalidade mais difícil. Lembro-me de outro próximo, não me segue mais, não me vê mais, não o sigo ou vejo tampouco, tudo termina, finda, mesmo que o começo seja a esperança do infinito. O infinito não existe para quem conhece as promessas. Não confio mais nas possibilidades que transformam rugas em sorrisos, expressões são expressões e lutam por se mostrar independente da exterioridade dos acontecimentos, não sou partidária da vulnerabilidade concedida por seduções sorridentes.